domingo, 26 de junho de 2011

Filme: Janela Indiscreta

Debatedor:


  • Moacir Francisco – professor do curso de Radialismo - UFMT


O CINEMA DE ALFRED HITCHCOCK


O diretor cinematográfico Alfred Hitchcock é inglês e tem uma trajetória rica na história do cinema mundial porque começou a sua carreira ainda na fase do cinema mudo, na Europa. Nesse período, ainda nos anos de 1920, ele fez três filmes. Como não havia o som no cinema, os cineastas dessa época desenvolveram uma espetacular técnica de narrar as histórias puramente pelas imagens. Essa é a marca dos filmes de Hitchcock. Para ele cinema se faz com imagens e não com diálogos . “ O cinema mudo é a forma mais pura do cinema”, disse uma vez Hitchcock.
O fascínio pelas imagens está presente em todos os filmes do diretor. Para ele as ações e os olhares devem contar uma história visual. “ Para mim, o pecado capital de um roteirista é quando se discute uma dificuldade, escamotear um problema dizendo: justificaremos isso através do diálogo”, afirma.
Hitchcock só teve o reconhecimento da crítica hollywoodiana pelo seu trabalho, após a publicação do livro de entrevistas feitas com ele por outro mestre do cinema, o diretor francês François Truffaut. Antes disso, os críticos o ridicularizavam. Diziam que seus filmes não tinham substância. Que eram apenas filmes comerciais. Mas Truffaut achava que Hitchcock devia estar ao lado dos grandes cineastas e conseguiu isso, usando a sua influência como um dos mais respeitados críticos da Cahiers Du Cinema, a mais importante publicação de cinema na França.
Nos filmes de Hitchcock há um duplo interesse pelo público: é preciso envolvê-lo na trama e ao mesmo tempo surpreendê-lo. Pela forma habilidosa como fazia esse duplo movimento em seus filmes, Hitchcock ficou conhecido como o mestre do suspense. Mas havia nele também um certo sadismo que gostava de dividir com o público. É este quem paga com calafrios por partilhar das perversões que animam as histórias contadas. Voyeurismo, fetichismo, necrofilia são temas recorrentes em seus filmes.
Ele confessou que gostava de sentir uma “sensação de comicidade” com a angústia do público. Hitchcock transformou seus aspectos físicos em algo que a mídia vendia como uma aparência sinistra – era gordinho e estava sempre de terno fumando charuto. Ele gostava de ver o público sofrer na pele de assassinos e vítimas inocentes. Seus filmes são surpreendentes armadilhas que capturam o público pela eficácia técnica, a sutilidade e o humor do mestre.
Em Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) Hitchcock trabalha com dois dos principais atores que aturavam as neuroses do diretor. James Stewart e Grace Kelly. Ele faz o papel de um fotógrafo que está temporariamente preso a uma cadeira de rodas por ter quebrado a perna. Ela é a namorada rica que gosta de ler revistas de modas e se mete em uma enrascada para seduzir um apático namorado.
Da janela de seu apartamento o único passatempo do fotógrafo é espiar a vida alheia. Pelas janelas indiscretas do condomínio vizinho ele encontra a decadência familiar e uma vizinha apetitosa. Assim pelo visual, sem diálogos, conhecemos os outros personagens da trama hitchcockiana. O músico, a jovem dançarina, a mulher solitária, os recém casados e um casal em crise. O voyeur acaba vendo um crime e sendo identificado pelo assassino.
Hitchcock dizia que uma porta ou uma janela aberta desperta o desejo de espiar. No filme os enquadramentos colocam o espectador na posição do personagem aprisionado pela vida que se passa pela teleobjetiva da sua câmera usada para satisfazer o desejo do olhar. Posta a trama o público vai sofrer pelo pescoço da princesa e temer pela vida do indiscreto fotógrafo. Como a personagem de James Stewart, nós, espectadores, pagamos pelo nosso voyeurismo cinematográfico.

Moacir Francisco